Todos nós de algum modo já passamos por perdas de algum tipo. A perda de um amigo ou familiar com a morte. A perda de um posto de trabalho. A perda de um objecto que deixamos esquecido em algum lugar, ou que nos é furtado por cobiça.
As perdas no geral trazem dor, sentimo-nos privados daquilo que perdemos. E tanto maior será a dor, quanto maior for o sentimento de apego para com esse objecto, pessoa ou situação especifica.
Recordo-me de uma ocasião em que o meu carro desapareceu do local onde o deixara estacionado, a cerca de três metros da porta do edifício onde resido, ia trabalhar e já estava em cima da hora. A minha mente dividiu-se em dois focos de preocupação; a responsabilidade de estar no local de trabalho na hora que me era devida e a impossibilidade de o fazer, pela incapacidade de encontrar o “meu” carro.
Dirigi-me para um Policia que estava na rua e visivelmente transtornada, disse-lhe que não encontrava o “meu” carro, prontamente, ele comunicou via rádio para o posto local e obteve a informação de que o carro tinha sido rebocado para o posto, devido a estar a impedir o acesso a uma garagem. Minha Culpa!
A casa em questão, que antes se encontrava desabitada tinha sido vendida, e eu não me apercebera, como tal, continuava a estacionar em frente à garagem sempre que não encontrava nenhum outro lugar vago para o fazer, confiante de que o meu acto não causaria qualquer dolo ou transtorno.
Cheguei ao posto completamente fora de mim, teria de pagar o serviço de reboque e possivelmente uma taxa ou multa pela infracção. Obtivera outro foco de atenção para se juntar aos restantes já existentes, o dinheiro. Vivendo há algum tempo com dificuldades monetárias, evitando gastos supérfluos e desnecessários para conseguir pagar as despesas, no momento em que tive de levantar o dinheiro necessário para poder levar o carro comigo, o sentimento de injustiça tornou-se insuportável, os pensamentos que me incorreram de todos os sacrifícios feitos até então para conseguir ter todas as contas pagas e em dia, tudo o que me privei de fazer ou comprar, pequenos prazeres que não obtive por privação. As lágrimas correram pelo meu rosto, sentia-me revoltada, completamente fora de mim. Ao falar com o Policia que me atendeu no posto, fui indelicada, tinha-me deixado descontrolar, gesticulando e falando bem alto, enquanto tentava buscar uma razão válida que pudesse ter sido procurada pelo dono da casa ao invés da sucedida. O agente tentou explicar-me que o erro tinha sido meu, e eu sabia-o, mas estava de tal modo transtornada que imputar toda a culpa ao outro era a única coisa capaz de fazer. Naquele momento passara a possuir uma lista negra e o proprietário da garagem passara a constar nela. Pedi desculpa ao agente pelo meu procedimento, sentia-me envergonhada, não me reconhecia ou identificava com aquele tipo de procedimento, mas não conseguia controlar-me. Levei dias e semanas a sentir-me revoltada e a tentar trabalhar nesse sentimento para o compreender e desse modo desarmar o gatilho que causara o seu despotelar. Muitas vezes, a única vontade que tinha era a de pegar no papel que o agente entregara-me que especificava o valor pago e a situação que originara a necessidade desse pagamento, e colá-lo na porta da garagem, deixá-lo como lembrança. Não o cheguei a fazer, embora a vontade fosse mais que enorme.
Não sinto orgulho do erro cometido e muito menos da minha incapacidade de manter o equilíbrio. Graças à ajuda do plano espiritual pude em todos os momentos estar consciente de todos os sentimentos, de todas as palavras que proferi, e quando finalmente readquiri a capacidade de os gerir pude meditar sobre eles. Aprendi que o sentimento de perda só é possível de ocorrer em nós quando acreditamos de que possuímos a propriedade de algo, esquecendo quem somos. Quando negamos aceitar que algo nos possa suceder.
Como Almas possuímos apenas o conhecimento do Ser que somos. O nosso corpo físico é apenas o veiculo de que necessitamos para podermos nos expressar neste mundo físico, como tal, um empréstimo que a matéria nos faculta para que nela, possamos materializar as obras e obter as aprendizagens de que necessitamos. Infelizmente deixamo-nos ofuscar pela ilusão de poder que a matéria nos pode facultar quando nela nos embrenhamos, esquecendo a nossa verdadeira essência. Deixamo-nos apegar a situações, pessoas e objectos, como se deles fossemos proprietários.
Quando nos encontramos apegados a algo, vivemos esse algo unicamente como foco da nossa atenção, e acabamos por descurar tudo o resto que nos rodeia, então por vezes, o plano espiritual têm de trabalhar a nosso desfavor para nos fazer ver o quanto distanciados caminhamos de nossa essência, e iludidos pela matéria limitamos nossa visão e compreensão, deixando-nos enredar nas teias de maya*
Há poucos dias atrás ao regressar de uma breve viagem, constatei que o “meu” carro havia sido roubado, alguém sentiu que detinha o direito de apossar-se dele e o levou do local onde o deixei. Desconheço se algum dia o irei reaver, ou sequer, se irá encontrar-se nas mesmas condições em que o deixei. Mas, neste momento, meses passados do sucedido no relato anterior, posso afirmar que aprendi de que o sentimento de perda não se pode apossar de nós quando não existe apego.
Uma perda apenas se pode tornar perda, se olhares para ela encarando-a como perda. Sem apego a dor não pode ser sentida. Simplesmente não existirá lugar para que se instale em nós. Somos nós que decidimos aquilo a que queremos dar espaço, e será bom que aprendamos rápido aquilo a que queremos dar espaço. O que queremos que se materialize e se expresse em nós.
Nós devemos deter o controlo sobre as situações e não o contrário, muito embora a maior parte das vezes sejam as situações que tomam controlo de nós, porque assim o permitimos ao apegarmo-nos às coisas, o que quer que sejam. Esquecemos que estamos aqui apenas por um breve período de tempo, e apenas enquanto aqui permanecemos necessitamos do conforto que a matéria nos pode proporcionar, e gratos dela devemos fazer uso sem nos apegarmos. Um dia partiremos, e connosco apenas levaremos as experiências imbuídas em nosso corpo de luz, nada mais.
Maya*= Palavra do sanscrito que significa ilusão
English version:
We all somehow have been through a loss of some kind. The loss of a friend or family member to death. The loss of a job. The loss of an object left forgotten in somewhere, or that it is been stolen by someone in greed.
Losses in general bring pain, we feel deprived of what we lost. And bigger will be the pain, as bigger be the feeling of attachment towards that object, person or specific situation.
I remember one time when my car disappeared from the place where I parked, about three feet from the door of the building where I live, I needed to go to work and was just in time. My mind was divided into two areas of concern, the responsibility to be at work at time, with the impossibility of doing so, because of the inability to find "my" car.
I went to a cop that was on the street and visibly upset, I told him that could not find “my” car, promptly, he communicate by radio to the local police station and obtained the information that the car had been towed to there, due to be prevent access to a garage. My fault!
The house in question, which was before uninhabited had been sold, and I was not aware of it, as such, continued to park in front of the garage when could not find any other free place to do so, confident that my act would not cause any intent or disorder.
I arrived at the police station completely out of me, would have to pay the towing service and possibly a fee or fine for the offense. Had obtained another focus of attention to join the others existing, money. Living for some time with monetary difficulties, avoiding superfluous and unnecessary expenses to be able to pay the expenses of every months, at the time I had to take the money needed to be able to bring the car with me, the feeling of injustice has become unbearable, the thoughts that incurred to me of all the sacrifices made so far to get enough money to have all the bills paid and up to date, all the things I deprived myself to do or buy, small pleasures I was not getting by deprivation. The tears fall down my face, I felt revolted, completely out of me. When talking to the cop at service in the police station, I was rude, had left me lose control, gesturing and talking loudly while trying to find a valid reason that could have been sought by the owner of the house rather than the one that was taken. The cop tried to explain to me that the mistake was mine, and I knew it, but was so upset that allocate all the blame to the other was the only thing capable of doing. At the time I had become to have a blacklist and the owner of the garage was now included in it. I apologized my procedure to the cop, I felt ashamed, I did not recognize or identify myself with that type of procedure, but could not control me. It took days and weeks feeling angry and trying to work on that feeling to understand and in that way disarm the trigger that serve of cause. Often the only desire I had was to take on the paper that the cop had given me, which specified the amount paid and the situation that originated the need for such payment and paste it in the door of the garage, leaving it as a souvenir. I did not do it, but the will was more than huge.
I do not feel proud of my fault, and less of my inability to maintain balance. Thanks to the help of the spiritual level, I could at all times be aware of all the feelings of all the words I spoke, and when I finally regained the ability to manage them, I could meditate on them. I learned that the feeling of loss can only occur in us when we believe that we have ownership of something, forgetting who we are. When we deny to accept that something may happen.
As souls, we have only the knowledge of Being what we are. Our physical body is just the vehicle we need to be able to express ourselves in this physical world, as such, a loan that its provides by matter in which we can realize the works and get the learning we need. Unfortunately we let ourselves be blinded by the illusion of power that matter can provide us when we let us wallow in it, forgetting our true essence. Letting us hold on to situations, people and objects, as if we were their owners.
When we are attached to something, we live that something as the only focus of our attention, and we end up forgetting everything else around us, so sometimes the spiritual plan have to work against us to make us see how far apart we are walking from our essence, and deluded by matter we limit our vision and understanding, leaving us entangled in the webs of maya *
Few days ago upon returning from a brief trip, I noticed that "my" car had been stolen, someone felt to have the right to seize it and take it out from where I left it. Do not know if some day I will get it back, or even, whether it will be in the same condition as when I left it. But, in this right moment, months after had happened that on the previous report, I can say I learned that the feeling of loss can not take possess of us when there is no attachment.
A loss can only become a lost, if you look at it viewing it as a loss. Without attachment the pain can not be felt. Simply there will be no place for them to install in us. Are we who decide to what we want to give space, and will be good to learn fast to what do we want to give space. What we want to materialize and be expressed in us.
We should detain the control over the situations and not the opposite, although most part of the times are the situations that take control on us, because in this way we allow when we become attached to the things, whatever they are. We forget that we are here only for a brief piece of time, and just while we stay here we need the comfort that the matter can offer us, and we should feel grateful to use it without create attachments. One day we will leave, and will take with us only the experiences embedded in our body of light, nothing else.
Maya* - Sanskrit word that mean illusion
